I know not what tomorrow will bring.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Notas do diretor

Já posso dizer que tenho dedicado minha vida ao teatro. Quando pensei em montar este texto, em transformá-lo em espetáculo, eu tinha 23 anos, sabia que não seria tarefa fácil e que só conseguiria quando eu pudesse dizer com tranquilidade que dedico minha vida ao teatro. Hoje, passados 15 anos, estou maduro e imaturo o suficiente para, até que enfim, levar essa obra aos palcos. Não é tarefa fácil, ninguém disse que seria, mas quando dedicamos nossa vida a alguma coisa, algumas vantagens podemos tirar deste tempo de dedicação, uma delas é a certeza de que não há milagre, de que gênios não existem; o que se tem é trabalho, pesquisa, mergulho e trabalho. Uma outra boa vantagem é que as PESSOAS que você encontra no caminho da dedicação mencionada aqui, são parceiras e que também dedicam suas vidas ao teatro. A primeira pegunta que me faço, quando estou diante de uma ideia, é se sou capaz de fazer aquilo que gostaria de fazer, depois, se as pessoas que eu gostaria que fizessem serão capazes, depois eu me pergunto se o mundo é capaz de receber o que nós estamos querendo oferecer e, por fim, eu me convenço que "tudo vale apena se alma não é pequena", usando das palavras do nosso autor. Então, hoje, nós temos o texto, nós temos os artistas, que não são poucos, em número e qualidade, já temos um modo, uma forma, para contar essa "passagem", essa "história", essa "parábola" e temos muitas almas enormes. A principio eu queria montar o texto na integra, mas fui descobrindo pequenos tesouros nos estudos que fiz sobre a obra de PESSOA, fui crendo que ele estava me dando alguns presentes e escolhendo outros para reforçar uma ideia, um lugar para onde eu quero conduzir o público. 

TODO PROCESSO É CRIADOR - nos deparamos com outro de nós no fim.


O Banqueiro Anarquista escrito por Fernando Pessoa em 1922, em um período de mudanças significativas para o mundo, com ideologias diversas e conflitantes, é um texto que pretende desconstruir "verdades absolutas", ou pelo menos, brincar de destruí-las."Nunca fui mais do que uma criança que brinca" (Álvaro de Campos ). Esse PESSOA que tem ideias profundas sobre o mundo, que pretende civilizar Portugal, não passa de um bufão; com tantas caras, formas e maneiras; mil pensadores em um, são tantos que ainda hoje nos causa espanto, quando descobrimos uma prosa, uma frase, uma poesia nova. Diz com a mesma força que desdiz.  

"Não tenho filosofia, tenho sentidos" (Alberto Caeiro).

Em um primeiro momento pretendo, com esta montagem, "apresentar" ao público o Fernando Pessoa prosador, muito se conhece da poesia de Pessoa, mas sua prosa é tão brilhante quanto sua poesia. Depois quero me utilizar de sua genialidade para dizer ao mundo que "cada um tem de libertar a si próprio". Se eu tivesse que fazer um resumo da peça diria esta frase:

"CADA UM TEM DE LIBERTAR A SI PRÓPRIO".

Junto com o Karini e o Peter, passo à passo, estamos investigando as possibilidades, tratando de refinar nosso discurso de liberdade. 

Todo objeto estético é um monumento histórico.

Portanto nos dedicamos a entender, a espiar o passado, através desta obra, que ainda é muito moderna, para não dizer atual, como é de costume que se digam quando uma obra da conta de muitos tempos, mas isso, muitas vezes, não é mérito da obra, mas desmérito da sociedade, que continua comendo o próprio rabo. Ainda temos um longo trabalho pela frente, pesquisa de músicas, de figurinos, de cenário e etc. Sem mais delongas, ainda há muito o que se dizer, mas com o tempo, vamos produzindo pensamentos e estes serão sempre postos aqui, para deleite daqueles que gostam de teatro. Sigamos.

Fernando Lopes Lima.

Entrevista com Fidel Castro.